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Novas doenças e pragas na floresta

 

  • Globalização dos mercados e trocas comerciais longínquas tornam o território mais vulnerável
  • Vespa asiática e nemátodo do pinheiro ameaçam valor da cadeia
  • Riscos e ameaças entravam a aposta no setor e o desenvolvimento da floresta

Pragas e insetos invasores

Invasores podem atingir nível de praga

O reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e membro do júri do Prémio Nacional de Agricultura explica como a vespa velutina chegou e como pode ameaçar toda a Península Ibérica.

Entrou em Portugal pelo porto de Viana do Castelo há menos de uma década e já ameaça boa parte da atividade agrícola no País.

A agricultura enfrenta atualmente novas ameaças incluindo novas pragas e doenças?
A título de exemplo, pode-se referir a vespa asiática e o nemátodo do pinheiro. No primeiro caso, trata-se da vespa velutina nigrithorax, originária do Sudeste Asiático, enquanto o nemátodo afeta o género pinus (pinheiros), casos do pinheiro bravo e manso. Invasores deste tipo são a segunda causa da perda de biodiversidade a nível global, a seguir à destruição do habitat. Contudo, migrações naturais de espécies para novas regiões também têm vindo a ser observadas em função das alterações climáticas. Sendo espécies novas, os ecossistemas não estão preparados para as receber, não tendo um equilibrado número de agentes auxiliares como parasitoides e predadores, e como tal, estas espécies invasoras rapidamente atingem nível de praga.

Que perigos representa a vespa asiática?
A vespa pode ter ação sobre colónias das abelhas, causando elevada mortalidade em colónias no inverno, a nível da população de polinizadores e, consequentemente, afetar a produção de frutos que dependem da mesma. Podem ainda causar mortes humanas, em resultado de ataques ocasionados pela descoberta de ninhos.

Estamos preparados para lidar com a situação?
Na atualidade, o conhecimento está mais difundido. Contudo, quando se depararem com esta situação, é fundamental que os proprietários comuniquem a sua localização à autarquia, para dar seguimento à destruição dos ninhos.

Como se distribui pelo País?
Julga-se que entrou na Europa através da França, importada da China. Em Portugal a via de entrada foi o porto de Viana do Castelo, através de madeira originária de Bordéus. Atendendo ao exemplo de França, os investigadores da área preveem que possa difundir-se por toda a Península Ibérica.

Ameaças com consequências económicas

O economista João Ferreira do Amaral realça o impacto económico das pragas e das doenças da floresta.

Qual o peso da floresta na economia portuguesa?
O valor económico da floresta pode ser aferido, de forma tradicional, pelo impacto no PIB, no saldo da balança comercial e no emprego. O setor florestal contribui com cerca de 1,8% para o PIB português e com 9% a 10% para o total das exportações. As produções deste setor têm um elevado valor acrescentado nacional, isto é, não necessitam, para se realizarem, de muitas importações, sejam diretas ou indiretas. Por exemplo, por cada 100 euros exportados pelo setor, 70 dão origem a valor acrescentado no nosso país. Do ponto de vista do emprego, o setor contribui com cerca de 90 mil postos de trabalho, ou seja cerca de 2% da população empregada. Mas a floresta tem um outro valor económico que tem que ver com os serviços ambientais que presta e que decorrem das suas caraterísticas de sumidouro de carbono, sendo essencial para o cumprimento do objetivo nacional de atingir a neutralidade carbónica em 2050.

De que forma as ameaças à floresta afetam a economia?
Têm consequência económicas muito negativas, não só porque afetam o setor da silvicultura, mas também todos os setores a jusante, ou seja, todas as atividades de base florestal que têm a importância que mencionámos atrás. Por outro lado, as pragas, doenças e incêndios, em particular, aumentam o risco para o investimento no setor, o que é um obstáculo ao são desenvolvimento da floresta. E não podemos esquecer que diminuem a sua capacidade de prestar serviço ambiental.

O maior prejuízo é o do produtor florestal

  • Nemátodo do pinheiro: Verme ataca toda a faixa litoral, onde o pinheiro bravo está mais presente, mas também outras resinosas
  • Toda a cadeia de valor no setor da produção de madeira é afetada

Veja aqui a entrevista completa com Luís Braga da Cruz, Presidente da Associação Florestal de Portugal, no âmbito do Prémio Nacional de Agricultura.