Exposição AI WEIWEI: Entrelaçar em Serralves

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Fundação "la Caixa" e BPI são mecenas da exposição que abre ao público a 23 de julho de 2021.
22-07-2021
  • Visita de Imprensa, com as presenças do artista Ai Weiwei, da Presidente da Fundação de Serralves, Ana Pinho, Rafael Chueca, Diretor Corporativo do Território e Centros da Fundação “la Caixa”, do diretor do Museu e comissário da exposição, Philippe Vergne, no dia 22 de julho, às 11,30 horas
  • Ai Weiwei vive e trabalha em múltiplos locais, incluindo Pequim (China), Berlim (Alemanha), Cambridge (Reino Unido) e Lisboa (Portugal). É um artista que usa uma grande variedade de suportes, dos mais reconhecidos do momento, que também trabalha o  filme, a escrita e a social media.
  • A exposição abre ao público no dia 23 de julho, a partir das 10,00 horas.


A exposição em Serralves, concebida especificamente para o Parque e a sala central do Museu, é comissariada por Philippe Vergne e Paula Fernandes, contando com o apoio do estúdio do artista e da Lisson Gallery, Londres, e neugerriemschneider, Berlim.

Nascido em 1957, em Pequim, Ai Weiwei é um artista, pensador e ativista, cuja prática artística aborda questões prementes do nosso tempo: o terramoto de 2008 em Sichuan (em trabalhos como Straight [Reto], 2008-12, ou Remembering [Recordar], 2009); a crise mundial de refugiados e migrantes forçados (na escultura Law of the Journey [A lei da jornada] e no documentário Human Flow [Fluxo humano], uma longa-metragem, ambos de 2017); ou, mais recentemente, o isolamento de Wuhan, China, durante o aparecimento do surto epidémico de Covid-19 na primavera de 2020 (a longa-metragem Coronation [Coroação], 2020); a luta pela democracia em Hong Kong — Cockroach [Barata], 2020 — ou o seu mais recente documentário, Rohingya, 2021, que se centra nos refugiados Rohingya.

Desde as posições iconoclastas perante a autoridade e a história — que incluíram o tríptico Dropping a Han Dynasty Urn [Deixando cair uma urna da Dinastia Han], 1995, e uma série de fotografias intitulada Study of Perspective [Estudo de perspetiva], 1995–2011, em que mostra o dedo do meio a símbolos do poder —, a sua produção diversificou-se, passando a abranger arquitetura, arte pública e performance. Para além de considerações de forma e de protesto, atualmente Ai Weiwei mede a nossa existência segundo a relação com as forças económicas, políticas, naturais e sociais, unindo destreza oficinal e criatividade conceptual. Símbolos universais de humanidade e comunidade, como bicicletas, flores ou árvores, assim como os eternos problemas de fronteiras e conflitos são reformulados e potenciados através de instalações, esculturas, filmes e fotografias, ao mesmo tempo que Ai continua a pronunciar-se publicamente sobre questões que acredita serem importantes.

“Ai Weiwei: Entrelaçar” apresenta Roots [Raízes] e Pequi Tree [Pequi vinagreiro], trabalhos que refletem a preocupação do artista com o ambiente e, mais especificamente, com a desflorestação da mata atlântica brasileira.

A exposição aborda o conceito de árvore como fenómeno biológico e como metáfora. As árvores surgiram na prática artística de Ai Weiwei pela primeira vez em 2009, quando apresentou cerca de cem enormes raízes e segmentos de árvores do sul da China na Haus der Kunst, em Munique. ‘Árvore’, enquanto conceito, toca no âmago da noção de domínio humano sobre o mundo natural, do impacto da globalização nos ecossistemas e na pegada ecológica humana na Terra.

Todos os trabalhos em ferro foram moldados no Brasil e fundidos na China para serem finalmente apresentados na Europa, todo o processo abrangendo três continentes. Pequi Tree, a mais recente obra de Ai, será apresentada pela primeiríssima vez no Parque de Serralves: uma árvore que passou de madeira a metal, de mortal a eterna, como elemento de prova e como monumento.

Em “Ai Weiwei: Entrelaçar”, o artista, para além de Pequi Tree e Roots apresenta ainda outras peças que completam a exposição. A escultura Two Figures [Duas figuras], em a figura humana é representada tridimensionalmente a fotografia Mutuophagia [Mutuofagia], e o filme “Uma Árvore” que documenta o processo de construção da obra Pequi Vinagreiro.

Paralelamente, será apresentada uma mostra de 17 filmes, divididos em quatro núcleos temáticos - QUATRO PANDEMIAS; CONTRA A CENSURA, CANTEMOS; DA UTOPIA À DISTOPIA e OS CONDENADOS DA TERRA - e o seu último filme A Tree [Uma árvore], que documenta o trabalho metódico e minucioso dos artesãos chineses e brasileiros durante o processo que deu origem aos moldes do pequi de 32 metros de altura.

Os trabalhos de Ai Weiwei estarão expostos, no museu, entre 22 de julho e 5 de fevereiro de 2022 e entre 22 de julho e 9 de julho de 2022, no parque de Serralves.

Obras

Roots [Raízes], 2019
Em 1940, o pai de Ai Weiwei, o poeta Ai Qing, escreveu o poema Árvores, sugerindo que as árvores conseguem comunicar entre si subterraneamente, através das suas raízes:

Uma árvore, outra árvore,
Cada uma sozinha e erecta.
O ar e o vento
Marcam a sua distância.

Mas por baixo da terra que as cobre
As suas raízes estendem-se.
E a profundidades impossíveis de ver
As raízes das árvores entrelaçam-se.

As raízes eram um dos objetivos principais da investigação de Ai Weiwei no Brasil em 2017. Estas raízes de pequi, uma árvore ancestral endémica do Brasil, foram descobertas em Trancoso, Estado da Bahia. Eram restos, vestígios da desflorestação ou de espécimes desaparecidos por causas naturais.

Através dos esforços conjuntos de artesãos chineses e brasileiros, cada peça foi criada a partir de duas ou três raízes diferentes. A técnica chinesa de trabalhar a madeira recorda um trabalho anterior de Ai — Tree [Árvore], 2009-10 —, em que segmentos díspares de árvores caídas foram agregados para criar formas inteiramente originais. Após a conceção destas obras de arte através da montagem dos fragmentos de raízes, os seus moldes foram enviados para a China para as peças serem produzidas em ferro. Cada uma das sete peças tem um nome diferente: Strength [Força], Palace [Palácio], Fly [Voa], Mr. Painting [Sr. Pintura], Martin, Level [Nível] e Party [Festa].

Pequi Tree [Pequi vinagreiro], 2018-20
A obra Pequi Tree demorou três anos a realizar. Durante uma viagem de investigação à América do Sul em 2017, Ai Weiwei encontrou um magnífico pequi — uma árvore nativa do Brasil —, um espécime com mais de 1200 anos. Localizada na Mata Atlântica, a árvore oca parecia morta, mas havia ainda alguns ramos vivos e verdejantes. Em 2018, o artista decidiu ir com a sua equipa para a floresta para realizar moldes em plástico reforçado com fibras de toda a árvore, de 32 metros de altura, tanto do interior como do exterior. A totalidade do molde, dividido em segmentos, foi transportado para a China para ser subsequentemente fundido e soldado. Cerca de 100 pessoas participaram neste processo e as horas totais de trabalho ultrapassaram os dois anos. Esta obra de arte imensa, resultado dos esforços combinados de artesãos brasileiros e chineses, é provavelmente a peça mais complexa que Ai Weiwei jamais criou em termos de volume de trabalho, mão de obra e tempo de feitura.

Two Figures [Duas figuras], 2018
Ai Weiwei tinha a intenção de fazer retratos tridimensionais de diferentes aspetos e tensões da cultura brasileira. Fez modelos de coisas que foi encontrando, incluindo o pequi, frutos tropicais, mas também pessoas. Two Figures remete implicitamente para a sexualidade latente na cultura brasileira. Ai recorda ter tido sonhos intensos no Brasil e ter vontade de realizar o que a sua mente tinha imaginado. Os moldes de Ai e de uma modelo brasileira contratada foram realizados em Trancoso, Estado da Bahia, por uma equipa de profissionais alemães. O processo durou cerca de seis horas para cada um dos moldes, que foram subsequentemente realizados em gesso. A instalação inclui ainda sementes de olho-de-cabra [Ormosia arborea], uma árvore endémica da América do Sul. Ai recorda-se de o seu pai, Ai Qing, lhe ter mostrado essas sementes durante a sua infância no Deserto do Gobi; Ai Qing realizara uma viagem à América do Sul em 1954, por ocasião do 50º aniversário de Pablo Neruda.


Mutuophagia
[Mutuofagia], 2018
O processo de trabalho de Ai Weiwei no Brasil ficou marcado por um profundo intercâmbio cultural. Mutuophagia é a dor e o prazer de dar uma dentada na cultura do outro e de oferecer uma dentada da cultura própria. A fotografia capta esse ritual antropofágico em que Ai come os frutos do país ao mesmo tempo que é ele próprio servido como alimento. Esta fotografia foi feita por Sergio Coimbra nos últimos dias da exposição em São Paulo.

A Tree [Uma árvore], 2021
Este filme de cinco horas de duração documenta o trabalho metódico e minucioso dos artesãos chineses e brasileiros durante o processo que deu origem aos moldes do pequi de 32 metros de altura. Produzidos nas profundezas da reserva florestal de Trancoso, Estado da Bahia, os moldes foram depois transportados para a China e metal fundido foi vertido nas suas cavidades para depois ser limpo e polido; finalmente, todos os segmentos foram soldados para constituir uma árvore completa. O filme funciona em paralelo com a peça Pequi Tree ou como filme autónomo, documentando não só a escala e o alcance do processo de produção, mas retratando também os esforços incansáveis dos artesãos, a sua enorme dedicação, assim como o seu talento e sabedoria. É um filme e uma obra de arte, que expressa a perspetiva pessoal do artista sobre este evento único e concreto de produção artística.

The films of Ai Weiwei: in four moments (Os filmes de Ai Weiwei: em quatro momentos)

A relação de Ai Weiwei com o cinema vem sendo desenvolvida de forma paralela com a sua prática artística, muitas vezes prolongando-a ou com ela estabelecendo diálogos de onde resultam linhas de continuidade através de diferentes obras, épocas, geografias e culturas. Estendendo-se pelas duas últimas décadas e com cerca de cinco dezenas de títulos, a filmografia do artista chinês desenvolve-se na fronteira entre o documentário de denúncia agitprop e as práticas contemporâneas da vídeoarte. Um cinema de temas, onde a simples presença de uma câmara se impõe como testemunha das injustiças políticas e económicas que dominam o mundo. Nesta mostra apresentam-se 17 filmes, divididos em quatro núcleos temáticos, que refletem algumas das preocupações que definem o olhar de Ai Weiwei sobre o cinema: desde a censura e repressão política na China à defesa dos direitos humanos e dos animais, passando pela sua conceção da arte como forma de reparação social e da potência da sua plataforma comunicacional como estratégia para concentrar atenções, forçar mudanças de opinião e influenciar tomadas de decisão onde elas são mais necessárias.

#1: quatro pandemias four pandemics: sars, covid, sida aids e and repressão repression

Sessão Screening 1
EAT, DRINK, AND BE MERRY (2003, 26 min)
CORONATION (2020, 1h53)

Sessão Screening 2
STAY HOME (2013, 1h17)
XIMEI GETTING MARRIED (2015, 26 min)

#2: contra a censura, cantemos against censorship, just sing

Sessão Screening 1
AI WEIWEI'S APPEAL ¥15,220,910.50 (2014, 2h07)

Sessão Screening 2
CAONIMA STYLE (2012, 4 min)
DUMBASS (2013, 5 min)
PLACING FRESH FLOWERS UNTIL I REGAIN THE RIGHT TO FREELY TRAVEL (2015, 20 min)
PLAY OF THE PLAY (2014, 1h)

#3: da utopia à distopia from utopia to distopia

Sessão Screening 1
FARYTALE (2010, 2h32)

Sessão Screening 2
VIVOS (2020, 1h52)

Sessão Screening 3
COCKROACH (2020, 1h33)

#4: os condenados da terra the wretched of the earth

Sessão Screening 1
HUMAN FLOW (2017, 2h20)
LAZIZ (2016, 14 min)

Sessão Screening 2
THE REST (2019, 1h18)
IDOMENI (2016, 17 min)

Sessão Screening 3
ROHINGYA (2021, 2h02)
 

A Fundação de Serralves, a Fundação “la Caixa” e o BPI estabeleceram um acordo de colaboração para o desenvolvimento de projetos de caráter social e cultural em Portugal, na sequência da entrada do BPI para o Grupo CaixaBank, que marcou o início da implementação dos programas e iniciativas de ação social da Fundação “la Caixa” no país, com o compromisso de alcançar um investimento de até 50 milhões de euros anuais nos próximos anos.

Um dos princípios de atuação da Fundação “la Caixa” é promover uma sociedade melhor, com enfoque especial nos grupos mais vulneráveis. A Fundação dá especial atenção aos seus programas estratégicos na área da integração laboral de pessoas em risco de exclusão social, da atenção aos idosos, do apoio às crianças e jovens em risco e da assistência às pessoas com doenças em estado avançado, promovendo ainda os Prémios de Solidariedade BPI Fundação “la Caixa”, em conjunto com o BPI. A Fundação “la Caixa” também atua na área da investigação na saúde e nas ciências sociais, e possui um prestigiado programa de bolsas de estudo. Em Portugal, incentiva ainda o desenvolvimento do interior do país através do Programa Promove, nos eixos de gestão de recursos naturais, criação de polos de desenvolvimento e fixação de residentes. As atividades de divulgação cultural são também uma das grandes prioridades da Fundação “la Caixa” através da colaboração com uma vasta rede de museus e entidades culturais de referência, nacionais e internacionais.

Mais de 110 anos após a sua criação, a Fundação “la Caixa” representa hoje um modelo único de compromisso social e é primeira fundação da União Europeia e uma das mais importantes do mundo.