A genialidade musical de Dmitry Sinkovsky

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O maestro que dirigiu a Orquestra Barroca da Casa da Música no ciclo Orquestra do Património.
01-10-2019

“Estão sempre a perguntar-me quem sou: se violinista, maestro ou cantor. Eu respondo: sou músico.” No Dia Mundial da Música, o BPI dá-lhe a conhecer Dmitry Sinkovsky, o maestro, violinista e cantor russo que dirigiu a Orquestra Barroca da Casa da Música em seis concertos ao ar livre, gratuitos, integrados no ciclo Orquestra do Património.

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BPI: Como surgiu a música na sua vida?

Dmitry Sinkovsky (DS): A música sempre fez parte da minha vida. Quando era pequeno, estava sempre a dançar e os meus pais decidiram inscrever-me numa escola de música, como era muito habitual nos países que integravam a ex-URSS. Foi com grande entusiamo que comecei a aprender violino. Claramente quis ser músico desde muito cedo.

BPI:  O mais comum é escolher uma disciplina musical, praticar até se atingir a excelência e tornar-se profissional nessa área da formação musical. Como consegue ser excelente no violino, no canto e na direção de orquestra?

DS: Comecei pelo violino com cinco, seis anos, estudei este instrumento durante toda a minha infância e adolescência. Na Rússia, tínhamos muita tradição musical e boas escolas, todas as crianças cantavam no coro ou tocavam piano. Mas o violino sempre foi a disciplina da minha vida. Mais tarde, descobri que adorava cantar. E quis estudar canto, com cerca de 20 anos. O que calhou bem porque a técnica vocal para me tornar contratenor só pôde ser aprendida depois da mudança da voz. Na direção de orquestra, considero fascinante termos de entender ambos os mundos, o dos instrumentos e o do canto. Quis também seguir esta via por abrir possibilidades de trabalhar com um reportório mais vasto. Estão sempre a perguntar-me quem sou: se violinista, maestro ou cantor. Eu respondo: sou músico. Não me sinto a pertencer a uma única “categoria”.  Sou um músico de mente aberta e adoro todo o tipo de música. Para mim, a música não tem limites.

BPI: Para além de músico multifacetado, é um animador. De onde vem a sua alegria em palco?

DS: É natural em mim; sou mesmo assim e tento contagiar os músicos com a minha energia. O meu professor de direção de orquestra estava sempre a chamar-me a atenção: “Please less, Dmitry, please less”! (Menos, Dmitry, menos!)

BPI:  Quem é o compositor que mais lhe toca?

DS: Quem escolher entre Caravaggio, Leonardo da Vinci ou Raphael? Depende da música, as linguagens dos compositores são muito diferentes. Mozart, Beethoven, Johann Sebastian Bach, Claudio Monteverdi, Prokofiev, Stravinski, todos são verdadeiros génios.  Vivaldi é o mestre da melodia, Händel é o mestre da ópera, Bach é o mestre do contraponto ou técnica polifónica, Mozart é o sol. Provavelmente, Mozart será a expressão mais próxima do compositor que mais me toca. Sinto-o em palco. Julgo que era um homem muito feliz.

BPI:  Como tem sido a experiência de conhecer e de atuar em Portugal?

DS: Adoro Portugal. É um dos poucos países onde me imaginaria a viver. Tenho tido a sorte de ser convidado para dirigir concertos em vários pontos do país e não só em Lisboa e no Porto, como a maioria dos músicos internacionais que vêm a Portugal. Estive duas vezes na Gulbenkian. Com a Casa da Música, tive já a oportunidade de visitar Braga, Évora, Porto, Mafra, Faro, Castelo Branco, Viana do Castelo, para estes concertos ao ar livre em centros históricos, onde fomentamos o gosto pela música mais erudita e conquistamos novos públicos.

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