Prémio Nacional do Turismo 2019

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Entrevista a Sérgio Guerreiro, Diretor de Gestão do Conhecimento do Turismo de Portugal.
08-05-2019

Sérgio Guerreiro é Diretor de Gestão do Conhecimento do Turismo de Portugal, responsável pelo programa Turismo 4.0 e pelo recém-criado Centro de Inovação do Turismo, do qual o BPI é associado fundador. É, acima de tudo, um entusiasta do empreendedorismo e da inovação no setor.

Sérgio Guerreiro é Diretor de Gestão do Conhecimento do Turismo de Portugal, responsável pelo Turismo 4.0 -  um programa integrado para promover a inovação no setor do turismo que envolve 350 start-ups - e pelo recém-criado Centro de Inovação do Turismo, do qual o BPI é associado fundador. É Chairman do Comité do Turismo da OCDE, Chairman do Grupo de Market Intelligence da European Travel Commission e representa Portugal em grupos de trabalho da Organização Mundial de Turismo, agência especializada das Nações Unidas e a principal organização internacional no campo do turismo. É, acima de tudo, um entusiasta do empreendedorismo e da inovação no setor e conversou connosco nos minutos que antecederam o lançamento da 1ª edição do Prémio Nacional de Turismo, na BTL.


O FIT - Fostering Innovation in Tourism é um programa do Turismo de Portugal que “visa dinamizar projetos inovadores de base turística e estimular o ecossistema empreendedor”. Esta pergunta é mais generalista: como se torna Portugal um destino FIT?

Sérgio Guerreiro: É um grande desafio, mas, como costumo dizer, o turismo foi dos primeiros setores a adotar o digital, através do inventário de hotéis e de voos digital dos nossos Global Distribution Systems (GDS). O problema é que só há dez anos se generalizaram as malas com quatro rodas. O que quer isto dizer? Estamos a falar de um setor muito complexo e diversificado em que o primeiro grande desafio é levar a inovação a toda a cadeia de valor.

Isto significa fazer com que todo o setor em conjunto faça a transição para o digital, aposte em fatores que melhorem a experiência do turista, aceite soluções para uma gestão de fluxos turísticos mais eficaz e que nos permita ter um planeamento almost real time.

Um segundo desafio tem a ver com a vertente operacional. Hoje em dia, a tecnologia tem de ser um enabler de soluções mais eficientes de gestão das empresas e dos equipamentos hoteleiros. O Centro de Inovação de Turismo terá o papel fundamental de mobilizar as empresas para se modernizarem e estarem na vanguarda da tecnologia.

O terceiro e último pilar, ou desafio, é um tema de capacitação. O setor do turismo faz-se de pessoas e para pessoas. As pessoas são o ativo essencial das empresas e temos de as capacitar para a revolução tecnológica que estamos a viver.


Com as exigências do mercado e a inovação no topo da Estratégia 2027, o que se pretende do novo profissional do turismo?

Sérgio Guerreiro: Pretende-se, antes de mais, que tenha uma característica de entrepreneur. Não deve cumprir apenas as funções que lhe estão destinadas, mas ser ele próprio um asset gerador de novas ideias, de novos trabalhos. Introduzimos a cadeira de empreendedorismo em todos os cursos das nossas escolas de hotelaria e turismo, o que faz com que o profissional do futuro seja eles próprio um gerador de ideias.

Tem também de conhecer o digital e de dominar as inovações da parte operacional que facilitam desde o check-in à gestão de energia e de água nos empreendimentos. É um profissional mais completo, mais ávido, mais aberto a conhecer e a progredir. O conhecimento hoje em dia não é estático, é dinâmico, e isto tem de ser parte do seu mindset.


Em vários setores de atividade, é esperado que a robótica, a Inteligência Artificial (IA), venha substituir as pessoas. No setor do turismo, como será?

Sérgio Guerreiro: Aquela que considero ser a grande diferença do turismo face a outros setores de atividade, e que tem justificado que países um pouco por todo o mundo apostem no turismo como vetor de desenvolvimento, é que, apesar da tecnologia e da IA poderem vir a transformar tarefas, a industrializá-las e a torná-las automáticas, a componente humana no turismo é absolutamente essencial.

Quando faço 20 horas de voo, não estou à espera de chegar a uma receção e de não encontrar ninguém. Posso transformar o processo da receção, digitalizando-o, ou seja, posso não precisar de mostrar o passaporte e a minha identificação, mas o acolhimento é fundamental.


Em que é que a Banca pode ajudar o setor do turismo a atingir os seus objetivos?

Sérgio Guerreiro: A Banca é um elemento essencial para o setor, antes de mais, porque é o primeiro parceiro a financiar e a ajudar os empresários a levarem as suas ideias para a frente e a concretizarem os seus projetos de inovação.

No caso específico do Centro de Inovação do Turismo, ter a componente financeira, quem nos ajuda a compreender o que são as necessidades das empresas, para onde estamos a evoluir em sistemas de pagamentos e noutro conjunto de matérias, torna a Banca um parceiro fundamental. Também no financiamento de alguns projetos que temos pela frente.

O lançamento do Prémio Nacional de Turismo a que vamos assistir agora será um reconhecimento importante do melhor que se faz no setor, também na vertente tecnológica.
 

Pretende-se consolidar Portugal enquanto hub internacional especializado para o setor do turismo. Que exemplos de empresas estão a desenvolver um bom trabalho, a inovar, a ser disruptivas?

Sérgio Guerreiro: Desde o período da crise, o ecossistema começou a ficar robusto, com um boom de aceleradores um pouco por todo o país. Começámos a trabalhar timidamente com alguns deles e hoje existe uma rede de 37 incubadoras que detêm protocolo com o Turismo de Portugal. Financiamos anualmente programas de aceleração e temos atualmente 350 start-ups nos nossos programas, várias no BTL Lab.

Alguns casos de sucesso aqui presentes são a GuestCentric, um excelente exemplo de quem já trabalha com negócio, a GuestU, que também passou pelos nossos programas e trabalha com hoteleiros, a B-Guest, igualmente a trabalhar com hoteleiros. Temos duas startups, a Optishower e a Hijffy, que ganharam um concurso da Marriot Hotels para testar as suas ideias nesta cadeia internacional.

A aposta nos programas de aceleração conjuntos vai prosseguir, agora com o Centro de Inovação do Turismo, porque verificamos existir uma maior propensão do setor para adotar, testar e incorporar estas soluções no processo de negócio.